Embora a teologia da prosperidade possua suas raízes teológicas, filosóficas e sociológicas nos Estados Unidos, seus mais proeminentes professores (por exemplo, Kenneth Copeland, Benny Hinn, Joyce Meyer, Joel Osteen, e o apropriadamente chamado Creflo Dollar) fizeram dela uma líder da exportação americana para todo o mundo. Hoje, o ensino sobre saúde e riqueza está proliferando num ritmo alarmante na América Latina e em muitos países em todo o continente africano.
Jeff Atherstone testemunhou a propagação da teologia da prosperidade na África ao longo da última década. Atherstone serve como presidente da Africa Renewal University (ARU), na Uganda. Tem servido naquele país subsaariano como missionário desde 2006 e foi um dos fundadores da ARU. Antes de se mudar para a Uganda, Atherstone serviu como plantador de igrejas na equipe da Cornerstone Community Church, em Simi Valley, Califórnia, EUA.
A TGC falou com Atherstone sobre os desafios que ele enfrenta na tentativa de proclamar a teologia ortodoxo numa região infestada por falsos ensinamentos.
PERGUNTA: O ensino da teologia da prosperidade está espalhado pela Uganda?
RESPOSTA: a teologia da prosperidade corre solta pela África subsaariana, e a Uganda não é exceção. As igrejas não se auto-denominam igrejas da prosperidade e até mesmo igrejas que alegam opor-se à teologia da prosperidade, a têm proclamado em seus púlpitos.
A teologia da prosperidade se uniu ao cenário teológico existente nesta região. Espalhou-se principalmente por meio da televisão. Pregadores como Benny Hinn, Creflo Dollar, Myles Munroe, e Joel Osteen, podem ser vistos na TV, noite e dia em lares cristãos por toda a Uganda. Seus livros podem ser encontrados em prateleiras cheias nas livrarias cristãs. Tais pregadores também também se empenharam em visitar pessoalmente a região.
PERGUNTA: Em que lugares você já viu a teologia da prosperidade em ação? Quão difícil é para a teologia ortodoxa ganhar audiência onde o ensino sobre a saúde e a riqueza é tão prevalente?
RESPOSTA: A África subsaariana é uma sociedade patriarcal, que nutre grande respeito por seus líderes. A teologia da prosperidade cresceu fortemente porque os líderes do movimento pagaram para ter os seus shows televisionados aqui. Eles visitaram esta região e seus livros estão disponíveis nesta região. Os líderes da teologia ortodoxa não pagaram para levar seus programas de TV e rádio, não têm realizado encontros em estádios cheios e seus livros não podem ser encontrados. A teologia ortodoxa precisa apresentar seus líderes a esta região, para ganhar o respeito (e ouvidos) das pessoas na África-subsaariana.
PERGUNTA: Existe alguma verdade bíblica sendo misturada pelos mestres da prosperidade nesses países, ensinada juntamente com a teologia da prosperidade?
RESPOSTA: Sim, o tempo todo. A duração dos sermões e e dos cultos na África subsaariana são muito mais longos do que no Ocidente, levando mais do que duas ou três horas todos os domingos (sem contar com os vários cultos no meio da semana e reuniões de oração atravessando a noite). Os sermões são preenchidos com longas histórias e anedotas, por isso muitas vezes pode-se ouvir o verdadeiro e o falso ensino entrelaçados juntos.
PERGUNTA: Por que você acha que os ensinos sobre fé / prosperidade são tão atraentes para o povo destes países?
RESPOSTA: Há três razões principais.
O Patriarcado. Como já mencionei, a teologia da prosperidade trouxe seus líderes aqui por meio de grandes cruzadas, TV, rádio e livros. Pode-se ouvir e ver Benny Hinn, Joel Osteen e TD Jakes, por toda parte. Estes homens são apresentados como os líderes do Cristianismo global, de modo que as pessoas os seguem.
A Mídia. A televisão e o rádio ainda são dominantes nestes lugares. Enquanto, nos EUA, os professores ortodoxos usam podcasts, vídeos do YouTube e mídias sociais para alcançar seu povo, na África subsaariana, TV e rádio ainda são os melhores meios para alcançar as pessoas. A mídia social está crescendo rapidamente, mas o som das TVs e rádios podem ser ouvidos 24 horas por dia, todos os dias da semana.
A Energia. A palavra “carismático” pode ser confusa, por isso vou usar “energia”. Muitos pregadores ortodoxos parecem chatos e ficam parados atrás de seus púlpitos com pouco movimento. Enquanto isso, os pregadores africanos são cheios de energia; suam enquanto se movimentam por seus palcos ao pregarem sermões inflamados. Os pregadores da prosperidade tem energia semelhante ao pregadores africanos em seu estilo, teatralidade e entrega. Isso os ajuda a conquistar o público africano subsaariano.
PERGUNTA: Como os missionários estão trabalhando para combatê-la?
RESPOSTA: Mais uma vez, de três maneiras principais. Em primeiro lugar, eles ficam lá por muito tempo. Numa sociedade patriarcal, é necessário ou ser famoso ou ficar muito tempo, a fim de conseguir aprovação. Missionários que chegam e saem rapidamente não recebem a mesma resposta e aceitação. Isto é desconcertante, uma vez que a África subsaariana é muito hospitaleira. Visitantes de curto prazo se sentem ouvidos e aceitos, mas, muitas vezes, as palavras que pregam são logo esquecidas.
Em segundo lugar, trazem mais líderes que pregam a teologia ortodoxa. Deveríamos estar recebendo nossos líderes na TV, no rádio e em grandes estádios aqui. O impacto destes eventos dura meses e às vezes anos.
Passion trouxe Chris Tomlin, Matt Redman e Charlie Hall em 2008 e 2012 e, literalmente, mudou a música de adoração cantada nas igrejas em torno de Kampala (capital da Uganda).
Em terceiro lugar, são fiéis em pregar e ensinar em escolas teológicas. Ter os alunos em nossas salas de aula para dois ou três anos contínuos na Africa Renewal University mudou dramaticamente sua teologia, seus ministérios de pregação e o direcionamento de suas igrejas. Investir em líderes locais, equipando-os com o verdadeiro evangelho, é fundamental.
PERGUNTA: Encontram-se muitas pessoas que estão frustradas porque a teologia da prosperidade não tem “funcionado” para eles? Talvez eles não tenham se tornado mais ricas e saudáveis e agora estejam desencorajadas ou frustradas?
RESPOSTA: Honestamente, não! As pessoas na África-subsaariana não têm a mesma necessidade de gratificação instantânea que temos no Ocidente. Sua paciência em esperar pela prosperidade é um dos fatores que faz este movimento crescer e avançar.
A maioria das pessoas que conheço que saem do movimento da prosperidade, são estudantes da Africa Renewal University. Quando seus olhos são abertos para a verdade do evangelho repetidamente, eles eventualmente desistem da falsa esperança que o ensino sobre saúde e riqueza promove. Os primeiros meses são repletos de debates em sala de aula, o que é extremamente saudável. Eventualmente, a verdade do evangelho triunfa em suas vidas e, a partir daí, em suas igrejas.
PERGUNTA: Dê-nos uma estratégia para combater eficazmente este falso ensino.
RESPOSTA: A teologia da prosperidade rouba das pessoas a alegria, deixando-as vazias, cobiçando mais e à procura de algo que não podem encontrar. Já que Deus já derramou as riquezas da sua graça sobre nós, podemos deliciar-nos diariamente com a sua presença, livres das promessas vazias deste mundo. Se tivesse que indicar uma estratégia para combater a teologia da prosperidade na África subsaariana, eu indicaria (nesta ordem):
Investiria em treinamento e discipulado de longo prazo por meio de escolas teológicas como a ARU. Isto pode soar como uma autopromoção descarada, mas honestamente a teologia da prosperidade tem raízes tão profundas nestes alunos, que um sermão, uma conferência ou um livro não vão mudar sua maneira de pensar.
Investiria em trazer os líderes do cristianismo ortodoxo a esta região por meio de conferências em estádios cheios, TV, rádio, mídia social e livros.
Finalmente, encorajaria os missionários a ficarem muito tempo e a aprenderem a pregar com a energia dos africanos, mantendo suas convicções teológicas.
Traduzido por Karine Souza.
Jeff Robinson (PhD, Seminário Teológico Batista do Sul) é um editor sênior da The Gospel Coalition. Nascido em Blairsville, Geórgia, EUA é também pastor da Christ Fellowship Church em Louisville, Kentucky, EUA e pesquisador sênior e associado de ensino do Andrew Fuller Center for Baptist Studies e professor adjunto de história da igreja no Southern Seminary. Antes de ingressar no ministério, ele passou quase 20 anos como jornalista na Geórgia, Carolina do Norte e Kentucky. É co-autor de “To the Ends of the Earth: Calvin’s Mission, Vision and Legacy [Até Os Confins da Terra: A Missāo, Visão e Legado de Calvino] e co-editor de “15 Things Seminary Couldn’t Teach Me” (Crossway, 2018) Jeff e sua esposa, Lisa, têm quatro filhos.
fonte https://coalizaopeloevangelho.org/article/africa-infestada-pela-teologia-da-prosperidade-e-da-saude/