Hoje as crianças estão crescendo num mundo compulsivamente conectado. A informação é incessante, os smartphones são onipresentes e com um clique ou um toque, os jovens têm acesso a conversas digitais sem fim, 24 horas por dia, 7 dias por semana.
Naturalmente, tal conectividade tem um custo. Muitas destas informações são bombardeadas por uma mídia enviesada e programada, com uma mensagem própria, uma mensagem que soa boa e até agradável, mas que é inerentemente venenosa. Isto está ficando cada vez mais barulhento, intenso e constante. E os jovens estão engolindo isso.
Esta é a mensagem do individualismo expressivo: a crença, segundo Tim Keller, de que “a identidade vem através da auto-expressão, através da descoberta de seus desejos mais autênticos e do ser livre para ser o próprio eu autêntico”.
Este é o evangelho ‘Disney-Hallmark-MTV’, do ‘siga seu coração’, ‘acredite em si mesmo’, ‘persiga seus sonhos’. É o catecismo da nossa cultura. É o que nossos jovens estão aprendendo. Você é o criador da sua identidade. Você é livre (até mesmo obrigado) a ser alguém ou qualquer coisa que o faça se sentir bem, não importa o que os outros digam.
Catecismo Cultural vs. Catecismo Bíblico
O individualismo expressivo está se tornando cada vez mais penetrante. Está impregnado em todos os meios: Nos filmes, nas músicas, nos livros, nas notícias, nas conversas particulares. Veja Hollywood, como o exemplo mais óbvio. Moana, o último filme animado da Disney, tem recebido comentários extasiados por seus gráficos impressionantes e trilha sonora maravilhosa. Mas os cristãos também notaram sua ideologia subjacente menos louvável. Russell Moore recentemente tuitou, depois de assistir ao filme com seus filhos:
Moana pode ser o filme mais bonito da Disney (visualmente falando), com a trilha sonora mais atraente, em talvez 20 anos. Advertência: Se você assistir com seus filhos, esteja preparado para desconstruir algum panteísmo misturado com politeísmo e individualismo expressivo.
O filme (muito em sintonia com o seu antecessor, Frozen) ensina às crianças que elas devem olhar para dentro de si mesmas para encontrarem sua verdadeira identidade e propósito, mesmo se as pessoas lhes disserem que não, mesmo que estejam “quebrando as regras”, como a Elsa, de Frozen, tão orgulhosamente declara. Este tema está entretecido na maior parte da mídia moderna para crianças e jovens adultos: sejam seus seriados e desenhos animados, seus romances e quadrinhos e, é claro, seus filmes.
Mas esta narrativa de auto-realização também se infiltra nos corações dos jovens de forma mais silenciosa e mais implícita. Em 2013, o filho de Will Smith, Jaden Smith, solicitou uma decisão de emancipação para o seu aniversário de 15 anos. Ele queria ficar livre das rédeas de autoridade de seus pais. Nossa cultura pinta a independência como algo espetacularmente sedutor para os jovens, fazendo-nos ansiar a viver por conta própria e a não ter que respeitar regras ou lidar com pais opressivos. Não se trata do incentivo saudável para ganharmos independência à medida que amadurecemos; é uma doutrina anti-comunidade e anti-autoridade. E quando o mundo faz com que isto pareça tão libertador e tão divertido, não é difícil vender a ideia.
Outra idéia cultural impulsionada pelo individualismo expressivo é o movimento de auto-estima, normalmente dirigido a adolescentes. Este movimento ensina algumas coisas verdadeiras e belas que cristãos afirmariam, tal como nosso valor inerente vindo do fato de sermos criados à imagem de Deus. Mas em boa parte dessa mentalidade “garota, você é demais”, existe um desejo mais profundo de auto-realização Não importa o que os “recalcados” dizem. Você tem que gritar alto e com orgulho, e não apenas se ame, irmã; adore a si mesma. Seja quem você quiser ser, e encontre sua felicidade naquela identidade auto-realizada. Abrace seu verdadeiro eu, e azar de quem não o fizer.
No entanto, tudo isso é descaradamente contra o ensinamento das Escrituras.
Ao invés de seguir nossos corações, Deus nos chama a seguir Sua vontade e a guardar os Seus mandamentos (Pv 3.5,6).
Ao invés de enfrentar as autoridades e infringir as regras, Deus nos chama para honrar nossos pais e respeitar as autoridades (Ef 6.1–3).
Ao invés de olhar para dentro, para encontrar nossa identidade, Deus nos chama a olhar somente para Cristo (Cl 3.1–3).
Ao invés de idolatrar nossos corpos, Deus nos chama a cuidar deles para Sua glória (1Co 6.15).
Ao invés de seguir nosso próprio caminho, Deus nos chama a tomar nossa cruz diariamente e seguir a Jesus (Lc 9.23).
Ao invés do individualismo, Deus nos chama a obedecer e adorar ao Rei (Ef 4.15,16).
A narrativa da auto-realização é inimiga do evangelho.
Meu Apelo aos Pais
Pais, vocês têm uma clara responsabilidade neste momento cultural: Ensinar a seus filhos a verdade. Ao longo dos anos, meus pais lapidaram três práticas vitais que me deram base para pensar criticamente, e também me envolver biblicamente com a ideologia da nossa cultura. Eu os encorajo a seguir seu exemplo.
1. Ensine a Bíblia regular e persistentemente a seus filhos.
Equipe-os com tanta verdade que eles serão capazes de detectar mentira a um quilômetro de distância. Ensine-lhes fé e prática cristã. Faça perguntas a eles, responda às suas perguntas e demonstre como defender o evangelho contra acusações. Deus é digno de nossa confiança e digno de nossas vidas. Demonstre isto para seus filhos.
2. Incentive o engajamento sábio com a mídia.
Da próxima vez que você e seus filhos forem ver um filme, não perca a oportunidade para treinar sua cosmovisão. Faça perguntas a eles. Compartilhe seus próprios pensamentos. Seja exemplo de como ser um consumidor de mídia com discernimento.
3. Inicie conversas sobre eventos atuais.
Seja sobre as eleições presidenciais ou um vídeo viral ou o sermão pregado em sua igreja no domingo passado, convide seus filhos ao diálogo. Aprendi muito sobre engajamento cultural e pensamento bíblico, através de inúmeras conversas com meus pais. Estas discussões sobre o que está acontecendo em nosso mundo, tornaram mais fácil para mim, identificar a falsa ideologia quando a encontro, e a combatê-la com a verdade.
Seus filhos estão tentando descobrir quem são. Eles estão tentando navegar num mundo complexo e em mudança, e entender seu lugar nele. Eles estão tentando ancorar sua identidade. E, em geral, nossa cultura tem uma mensagem para eles: Olhe para dentro de si, siga seu coração e ache sua identidade em seus desejos. A Palavra de Deus tem uma mensagem diferente para eles: Olhe para Deus, receba um novo coração e encontre sua identidade somente em Cristo.
Pais, ensinem que a seus filhos que, na verdade, a vida, não é centrada neles, mas em Jesus. Pois somente quando entenderem este ponto, eles se tornarão quem realmente foram criados para ser.
Traduzido por Alessa Mesquita do Couto.
Jaquelle Crowe é editora-chefe da Rebelution e escritora do leste do Canadá. Ela é autora de This Changes Everything: How the Gospel Transforms the Teen Years [Isso Muda Tudo: Como o Evangelho Transforma Nossa Adolescência] (Crossway, 2017). Pode-se segui-la no Twitter.
fonte https://coalizaopeloevangelho.org/article/como-jovens-como-eu-aprendem-o-individualismo-expressivo/